Partiu hoje o contrabaixista Nuno Gonçalves.
Figura fundamental de uma das primeiras gerações do Jazz em Portugal, pessoa de finíssimo trato e de transbordante simpatia.
Relembro hoje o último contacto que tive com ele, sobre os pormenores do concerto do quarteto de Red Rodney em 1975 em Portugal (Hot Clube e CineTeatro de Castelo Branco) que Nuno Gonçalves nessa altura integrou.
Foi um momento de grande alegria para o Nuno, alegria que, mais de 40 anos depois, ainda era patente quando falava desse concerto.
Ficam aqui as palavras de Nuno Gonçalves e o meu abraço fraterno.
Que descanse em Paz
"Olá Zé, grande prazer em ter noticias tuas.
Desde já obrigado pelo teu contacto.
Ainda guardo um exemplar do boletim dos concertos com o Red Rodney /Art Themen. Foi para nós uma grande experiência poder, naquela época, partilhar musica com musicos assim...
De facto houve episódios que me ficaram gravados na memória e que terei imenso gosto em partilhar contigo. Posso falar ao Adrien Ransy, que também particiou como baterista nestes acontecimentos.
Posso desde já adiantar-te que os concertos (no Hot e em Castelo Branco) e a contratação do Red Rodney/Art Themen foram organizados pelo Duarte Mendonça, que terá ainda fotografias do evento, que por sinal eu muito gostaria e ter. Lembro-me também de referencias a Bird...
Um abraço!! NG
Aqui vai:
Foi o Duarte Mendonça que empresariou os concertos com o RR, que tinha cá estado no festival de Jazz de Cascais. Veio agora acompanhado do Art Themen (sax tenor), simpático, excelente musico, e médico otorrino inglês.
Os concertos com o Red\Rodney foram 3 no Hot Clube e um em Castelo Branco, no Cineteatro (?) Estava agendado mais um no teatro ABC, que não se chegou a realizar.
Eu era o único português da banda. Os outros músicos da secção rítmica eram o Kevin Hoidale, pianista norte americano que vivia em Portugal nos anos …..e o Adrien Ransy, baterista belga que na época integrava o Quinteto Académico.
Para as sessões no Hot, o Kevin trouxe o seu piano Fender Rhodes, pois o piano do Hot da época, que era um piano acústico antigo vertical muito estafado. Este Rhodes era uma grande novidade na época, porque era uma adição muito recente à musica de Jazz.
O Red Rodney enviou uma carta com uma lista de temas a fazer nas sessões, todos standards bonitos. Fizemos (só a secção rítmica) um ensaio prévio no Hot Clube, para passar os temas da lista.
O RR contou nos concertos, no intervalo entre dois temas em que apresentava os músicos da banda, o episódio da sua parceria com Parker, em que num gig num bar que era reservado apenas a pessoas de raça negra, ter apresentando Red Rodney como “Albino Red”. (Vi uns anos mais tarde este episódio no filme Bird, de Clint Eastwood).
Para além dos concertos no Hot, o ultimo concerto foi no Cineteatro… de Castelo Branco organizado por um aficionado do Jazz, o Luis Pio, dedicado ao irmão, que tinha falecido num acidente de automóvel e que era também um grande aficionado do Jazz.
Forma-se uma comitiva, com alguns notáveis do Jazz Luso como o Luis Vilas Boas e o Zé Duarte, que se dirige para Castelo Branco por montes e vales por uma estrada sinuosa e em mau estado.
Na época as coisas eram ainda mais artesanais do que hoje e, quando chegámos para ensaiar o som, só havia o piano, um chaço de piano vertical que, além de não tocar algumas notas, estava super-desafinado!!! Aparelhagem sonora inexistente e um frio de rachar numa sala deserta (3 bilhetes vendidos) num edifício antigo e húmido, completavam o quadro surrealista... Ainda se tentou remediar o piano com uma iniciativa heróica pelo Zé Duarte, o Vilas Boas e de mais uns bravos, que foram tentar ir buscar em braços um piano de cauda que estava num museu. Claro que desistiram quando viram o peso e o concerto teve que se fazer mesmo com o piano que havia e a aparelhagem que não havia. Coisas do improviso à portuguesa, que na época era mais incipiente ainda do que é hoje.
O regresso a Lisboa foi, para compensação, super divertido com a companhia e o senso de humor do Luís Vias Boas!
Tocar em formação de quinteto de Jazz com trompete+sax tenor+piano+contrabaixo+bateria!!
Uma formação emblemática no Jazz. Foi a realização de um sonho poder tocar numa formação destas e com estes músicos, um deles, uma lenda viva que tinha tocado com o “deus” Charlie Parker, temas dele, reproduzir aqueles sons que se ouviam nos discos..."
Figura fundamental de uma das primeiras gerações do Jazz em Portugal, pessoa de finíssimo trato e de transbordante simpatia.
Relembro hoje o último contacto que tive com ele, sobre os pormenores do concerto do quarteto de Red Rodney em 1975 em Portugal (Hot Clube e CineTeatro de Castelo Branco) que Nuno Gonçalves nessa altura integrou.
Foi um momento de grande alegria para o Nuno, alegria que, mais de 40 anos depois, ainda era patente quando falava desse concerto.
Ficam aqui as palavras de Nuno Gonçalves e o meu abraço fraterno.
Que descanse em Paz
"Olá Zé, grande prazer em ter noticias tuas.
Desde já obrigado pelo teu contacto.
Ainda guardo um exemplar do boletim dos concertos com o Red Rodney /Art Themen. Foi para nós uma grande experiência poder, naquela época, partilhar musica com musicos assim...
De facto houve episódios que me ficaram gravados na memória e que terei imenso gosto em partilhar contigo. Posso falar ao Adrien Ransy, que também particiou como baterista nestes acontecimentos.
Posso desde já adiantar-te que os concertos (no Hot e em Castelo Branco) e a contratação do Red Rodney/Art Themen foram organizados pelo Duarte Mendonça, que terá ainda fotografias do evento, que por sinal eu muito gostaria e ter. Lembro-me também de referencias a Bird...
Um abraço!! NG
Aqui vai:
Foi o Duarte Mendonça que empresariou os concertos com o RR, que tinha cá estado no festival de Jazz de Cascais. Veio agora acompanhado do Art Themen (sax tenor), simpático, excelente musico, e médico otorrino inglês.
Os concertos com o Red\Rodney foram 3 no Hot Clube e um em Castelo Branco, no Cineteatro (?) Estava agendado mais um no teatro ABC, que não se chegou a realizar.
Eu era o único português da banda. Os outros músicos da secção rítmica eram o Kevin Hoidale, pianista norte americano que vivia em Portugal nos anos …..e o Adrien Ransy, baterista belga que na época integrava o Quinteto Académico.
Para as sessões no Hot, o Kevin trouxe o seu piano Fender Rhodes, pois o piano do Hot da época, que era um piano acústico antigo vertical muito estafado. Este Rhodes era uma grande novidade na época, porque era uma adição muito recente à musica de Jazz.
O Red Rodney enviou uma carta com uma lista de temas a fazer nas sessões, todos standards bonitos. Fizemos (só a secção rítmica) um ensaio prévio no Hot Clube, para passar os temas da lista.
O RR contou nos concertos, no intervalo entre dois temas em que apresentava os músicos da banda, o episódio da sua parceria com Parker, em que num gig num bar que era reservado apenas a pessoas de raça negra, ter apresentando Red Rodney como “Albino Red”. (Vi uns anos mais tarde este episódio no filme Bird, de Clint Eastwood).
Para além dos concertos no Hot, o ultimo concerto foi no Cineteatro… de Castelo Branco organizado por um aficionado do Jazz, o Luis Pio, dedicado ao irmão, que tinha falecido num acidente de automóvel e que era também um grande aficionado do Jazz.
Forma-se uma comitiva, com alguns notáveis do Jazz Luso como o Luis Vilas Boas e o Zé Duarte, que se dirige para Castelo Branco por montes e vales por uma estrada sinuosa e em mau estado.
Na época as coisas eram ainda mais artesanais do que hoje e, quando chegámos para ensaiar o som, só havia o piano, um chaço de piano vertical que, além de não tocar algumas notas, estava super-desafinado!!! Aparelhagem sonora inexistente e um frio de rachar numa sala deserta (3 bilhetes vendidos) num edifício antigo e húmido, completavam o quadro surrealista... Ainda se tentou remediar o piano com uma iniciativa heróica pelo Zé Duarte, o Vilas Boas e de mais uns bravos, que foram tentar ir buscar em braços um piano de cauda que estava num museu. Claro que desistiram quando viram o peso e o concerto teve que se fazer mesmo com o piano que havia e a aparelhagem que não havia. Coisas do improviso à portuguesa, que na época era mais incipiente ainda do que é hoje.
O regresso a Lisboa foi, para compensação, super divertido com a companhia e o senso de humor do Luís Vias Boas!
Tocar em formação de quinteto de Jazz com trompete+sax tenor+piano+contrabaixo+bateria!!
Uma formação emblemática no Jazz. Foi a realização de um sonho poder tocar numa formação destas e com estes músicos, um deles, uma lenda viva que tinha tocado com o “deus” Charlie Parker, temas dele, reproduzir aqueles sons que se ouviam nos discos..."
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