O 1º número do Boletim Informativo do Hot Clube de Portugal aqui fica de Janeiro 1975 (desculpem o pouco respeito pela cronologia...)
Abre com uma resenha do que foi a 4ª edição do Cascais Jazz pela pena de José Duarte adoptando uma estéctica ML (*)absolutamente actual, na altura...
Seguem-se preciosos elementos biográficos de Rui Cardoso, um dos pioneiros nacionais do saxofone Jazz e um extenso artigo/entrevista sobre Archie Shepp.
Lá pelo meio o anúncio de concertos em Castelo Branco e Lisboa do grupo de Red Rodney com o português Nuno Gonçalves no contrabaixo.
(*) ML, para quem é demasiado novo para o saber ou para quem já esqueceu o espírito do tempo, significa "marxista-leninista"
A curiosidade pelas circunstâncias em que estes concertos foram agendados e pelo que se passou no "terreno" levou a que abordasse o Nuno Gonçalves,um dos decanos do contrabaixo jazz portugueses e uma simpatia de pessoa, para que soubessemos mais sobre como foi tocar com esse grande trompetista próprio, alguém que tantas vezes partilhou o palco com "Bird".
Como era de esperar, Nuno, amávelmente, respondeu ás questões que lhe coloquei:
"Onobsj!!:Como chegaste ao contacto do Red?
N.G.:Foi o Duarte Mendonça que empresariou os concertos com o RR, que tinha cá estado no festival de Jazz de Cascais. Veio agora acompanhado do Art Themen (sax tenor), simpático, excelente musico, e médico otorrino inglês.
Os concertos com o Red Rodney foram 3 no Hot Clube e um em Castelo Branco, no Cineteatro Avenida. Estava agendado mais um no teatro ABC, que não se chegou a realizar.
Eu era o único português da banda. Os outros músicos da secção rítmica eram o Kevin Hoidale, pianista norte americano que vivia em Portugal nos anos 70 e o Adrien Ransy, baterista belga que na época integrava o Quinteto Académico.
Para as sessões no Hot, o Kevin trouxe o seu piano Fender Rhodes, pois o piano do Hot da época, que era um piano acústico antigo vertical muito estafado. Este Rhodes era uma grande novidade na época, porque era uma adição muito recente à musica de Jazz.
Onobsj!!:: O Red Rodney mandou os temas antes ou foi á 1ª vista? algum original? que dicas deu ou exigências ( musicais ou outras) fez?
N.G.:O Red Rodney enviou uma carta com uma lista de temas a fazer nas sessões, todos standards bonitos. Fizemos (só a secção rítmica) um ensaio prévio no Hot Clube, para passar os temas da lista.
Onobsj!!:: Alguma "estória" ou detalhes interessantes que tenham ocorrido durante os ensaios e/ou concerto?
N.G.:Red Rodney contou nos concertos, no intervalo entre dois temas em que apresentava os músicos da banda, o episódio da sua parceria com Parker, em que num gig num bar que era reservado apenas a pessoas de raça negra, ter apresentando Red Rodney como “Albino Red”. (Vi uns anos mais tarde este episódio no filme Bird, de Clint Eastwood).
Para além dos concertos no Hot, o ultimo concerto foi no Cineteatro de Castelo Branco organizado por um aficionado do Jazz, o Luis Pio, dedicado ao irmão, que tinha falecido num acidente de automóvel e que era também um grande aficionado do Jazz.
Forma-se uma comitiva, com alguns notáveis do Jazz Luso como o Luis Vilas Boas e o Zé Duarte, que se dirige para Castelo Branco por montes e vales por uma estrada sinuosa e em mau estado.
Na época as coisas eram ainda mais artesanais do que hoje e, quando chegámos para ensaiar o som, só havia o piano, um chaço de piano vertical que, além de não tocar algumas notas, estava super-desafinado!!! Aparelhagem sonora inexistente e um frio de rachar numa sala deserta (3 bilhetes vendidos) num edifício antigo e húmido, completavam o quadro surrealista... Ainda se tentou remediar o piano com uma iniciativa heróica pelo Zé Duarte, o Vilas Boas e de mais uns bravos, que foram tentar ir buscar em braços um piano de cauda que estava num museu. Claro que desistiram quando viram o peso e o concerto teve que se fazer mesmo com o piano que havia e a aparelhagem que não havia. Coisas do improviso à portuguesa, que na época era mais incipiente ainda do que é hoje.
O regresso a Lisboa foi, para compensação, super divertido com a companhia e o senso de humor do Luís Vias Boas!
Foi a realização de um sonho poder tocar numa formação destas e com estes músicos, um deles, uma lenda viva que tinha tocado com o “deus” Charlie Parker, temas dele, reproduzir aqueles sons que se ouviam nos discos..."
Obrigado Nuno. Grande abraço!
Nuno Gonçalves in facebook
Red Rodney on MySpace
Abre com uma resenha do que foi a 4ª edição do Cascais Jazz pela pena de José Duarte adoptando uma estéctica ML (*)absolutamente actual, na altura...
Seguem-se preciosos elementos biográficos de Rui Cardoso, um dos pioneiros nacionais do saxofone Jazz e um extenso artigo/entrevista sobre Archie Shepp.
Lá pelo meio o anúncio de concertos em Castelo Branco e Lisboa do grupo de Red Rodney com o português Nuno Gonçalves no contrabaixo.
(*) ML, para quem é demasiado novo para o saber ou para quem já esqueceu o espírito do tempo, significa "marxista-leninista"
A curiosidade pelas circunstâncias em que estes concertos foram agendados e pelo que se passou no "terreno" levou a que abordasse o Nuno Gonçalves,um dos decanos do contrabaixo jazz portugueses e uma simpatia de pessoa, para que soubessemos mais sobre como foi tocar com esse grande trompetista próprio, alguém que tantas vezes partilhou o palco com "Bird".
Como era de esperar, Nuno, amávelmente, respondeu ás questões que lhe coloquei:
"Onobsj!!:Como chegaste ao contacto do Red?
N.G.:Foi o Duarte Mendonça que empresariou os concertos com o RR, que tinha cá estado no festival de Jazz de Cascais. Veio agora acompanhado do Art Themen (sax tenor), simpático, excelente musico, e médico otorrino inglês.
Os concertos com o Red Rodney foram 3 no Hot Clube e um em Castelo Branco, no Cineteatro Avenida. Estava agendado mais um no teatro ABC, que não se chegou a realizar.
Eu era o único português da banda. Os outros músicos da secção rítmica eram o Kevin Hoidale, pianista norte americano que vivia em Portugal nos anos 70 e o Adrien Ransy, baterista belga que na época integrava o Quinteto Académico.
Para as sessões no Hot, o Kevin trouxe o seu piano Fender Rhodes, pois o piano do Hot da época, que era um piano acústico antigo vertical muito estafado. Este Rhodes era uma grande novidade na época, porque era uma adição muito recente à musica de Jazz.
Onobsj!!:: O Red Rodney mandou os temas antes ou foi á 1ª vista? algum original? que dicas deu ou exigências ( musicais ou outras) fez?
N.G.:O Red Rodney enviou uma carta com uma lista de temas a fazer nas sessões, todos standards bonitos. Fizemos (só a secção rítmica) um ensaio prévio no Hot Clube, para passar os temas da lista.
Onobsj!!:: Alguma "estória" ou detalhes interessantes que tenham ocorrido durante os ensaios e/ou concerto?
N.G.:Red Rodney contou nos concertos, no intervalo entre dois temas em que apresentava os músicos da banda, o episódio da sua parceria com Parker, em que num gig num bar que era reservado apenas a pessoas de raça negra, ter apresentando Red Rodney como “Albino Red”. (Vi uns anos mais tarde este episódio no filme Bird, de Clint Eastwood).
Para além dos concertos no Hot, o ultimo concerto foi no Cineteatro de Castelo Branco organizado por um aficionado do Jazz, o Luis Pio, dedicado ao irmão, que tinha falecido num acidente de automóvel e que era também um grande aficionado do Jazz.
Forma-se uma comitiva, com alguns notáveis do Jazz Luso como o Luis Vilas Boas e o Zé Duarte, que se dirige para Castelo Branco por montes e vales por uma estrada sinuosa e em mau estado.
Na época as coisas eram ainda mais artesanais do que hoje e, quando chegámos para ensaiar o som, só havia o piano, um chaço de piano vertical que, além de não tocar algumas notas, estava super-desafinado!!! Aparelhagem sonora inexistente e um frio de rachar numa sala deserta (3 bilhetes vendidos) num edifício antigo e húmido, completavam o quadro surrealista... Ainda se tentou remediar o piano com uma iniciativa heróica pelo Zé Duarte, o Vilas Boas e de mais uns bravos, que foram tentar ir buscar em braços um piano de cauda que estava num museu. Claro que desistiram quando viram o peso e o concerto teve que se fazer mesmo com o piano que havia e a aparelhagem que não havia. Coisas do improviso à portuguesa, que na época era mais incipiente ainda do que é hoje.
O regresso a Lisboa foi, para compensação, super divertido com a companhia e o senso de humor do Luís Vias Boas!
Foi a realização de um sonho poder tocar numa formação destas e com estes músicos, um deles, uma lenda viva que tinha tocado com o “deus” Charlie Parker, temas dele, reproduzir aqueles sons que se ouviam nos discos..."
Obrigado Nuno. Grande abraço!
Nuno Gonçalves in facebook
Red Rodney on MySpace
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